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Corte manual da cana deve ser substituído por máquinas até 2014
Em São Paulo, estado que mais produz cana-de-açúcar no país, 2014 é o prazo final para acabar com o uso do fogo nas lavouras mecanizadas, que hoje representam 84% da área plantada.
Quem vive em regiões produtoras de cana-de-açúcar sabe que quando chega a safra, chegam também as queimadas permitidas por lei.
O fogo queima a palha da cana e, assim, possibilita a colheita manual. Mas ele também prejudica a saúde e o meio-ambiente, já que libera na atmosfera grande quantidade de CO2, gás que promove o aquecimento global.
Nenhum combustível, nem mesmo o etanol de cana, pode ser considerado totalmente verde, limpo para usar como fogo. A saída é mecanizar a colheita, um processo que requer investimento alto e que já vinha acontecendo gradativamente nos canaviais do estado.
Há quatro anos, como parte das ações para adequar às lavouras aos critérios ambientais, o governo de São Paulo, estado que responde por mais da metade da produção nacional, lançou um desafio: antecipar o fim da queima da palha da cana.
Nas áreas mecanizáveis, a meta antes prevista para 2021, passou para 2014. Nas áreas não-mecanizáveis, ela passou de 2031 para 2017.
A adesão das usinas paulistas ao chamado "protocolo agroambiental" foi quase que total. Quando o protocolo foi assinado em 2007, apenas 34% da área de cana-de-açúcar do estado de São Paulo estava mecanizada. Hoje esse número já quase dobrou.
Neste período, 800 mil hectares deixaram de ser queimados, um ganho ambiental inquestionável, mas sem fogo, o corte manual se torna inviável e promete dar fim a uma das profissões mais antigas da agricultura brasileira.
Uma colhedora automática faz o trabalho de 80 homens, mas pelo em São Paulo, a figura do ´cortador de cana boia-fria´ está com os anos contados.
Os trabalhadores que por tantas vezes viraram notícia, vítimas de maus tratos, ao longo dos anos, também conquistaram direitos importantes, alguns até óbvios, mas adquiridos com muita luta como carteira assinada, salário fixo mínimo, assistência médica, uniforme e equipamentos de segurança, água, banheiro, sombra para comer e transporte seguro. O básico para quem exerce um serviço tão pesado.
A palavra de ordem agora é requalificação. Os trabalhadores do corte precisam ser treinados para exercer outro serviço. Atualmente, em São Paulo, 140 mil pessoas sobrevivem da atividade e para a Unica, União da Indústria de Cana-de-Açúcar, pelo menos a metade desses trabalhadores deve continuar no setor.
Segundo a Unica, cada máquina que entra em atividade emprega cerca de 18 pessoas. São operadores, motoristas, eletricistas, mecânicos, mão de obra especializada, indisponível no mercado no momento. Para atender a demanda, as usinas decidiram formar parte de seus cortadores para as novas funções. Sem essa mão-de-obra, os planos de expansão do setor podem ir por água abaixo.
Em uma usina localizada no município de Paraguaçu Paulista, região oeste de São Paulo, 83% da lavoura já está mecanizada e mesmo com esse estágio avançado, nenhum trabalhador do corte foi dispensado. A razão é simples: nos últimos quatro anos, a área plantada com cana-de-açúcar saltou de 45 mil para 100 mil hectares.
Mas nem tudo é positivo, longe disso. A mecanização, na verdade, dispensa mais mão de obra do que recontrata. E quem fica de fora, geralmente são os cortadores que não atendem aos pré-requisitos mínimos exigidos em quase todos os cursos, como ensino fundamental e, em alguns casos, carteira de motorista.
Para esses trabalhadores, além de requalificar para atender a nova demanda das usinas, é preciso pensar também em atividades fora do setor.
Ações para requalificar os cortadores existem, mas, infelizmente, ainda não são suficientes. Há iniciativa de usina, de governos estaduais, mas somando tudo, cerca de 500 mil postos de trabalho o setor canavieiro está desempregando no país todo.
Durante décadas, esses homens e mulheres usaram a força para alimentar as usinas. Muitos vêm de longe, deixam suas famílias durante meses, ano após ano, para cortar cana no Centro-Sul. Hoje, eles precisam do empenho destas mesmas usinas e do poder público para encontrar um novo espaço dentro do Brasil. Um país que, certamente, se tornou mais rico por conta desse trabalho e sacrifício.