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04/04/2012

Impacto do aporte ao banco é incógnita

O impacto do novo aporte de recursos definido para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - R$ 45 bilhões - anunciado ontem pelo governo junto com as demais medidas de incentivo à produção e ao investimento é uma incógnita. Para analistas, as indústrias precisam mais do que recursos para retomar investimentos. As medidas, porém, trazem um atrativo: algumas linhas estão com juro zero.

Para o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES, não adianta elevar a dotação do banco enquanto a velocidade do processamento dos pedidos permanece a mesma, tendo em vista a manutenção de critérios e procedimentos rígidos para análise dos financiamentos.

"Além disso, existe claramente hoje uma limitação do lado da demanda pelos recursos do BNDES, pois as empresas têm sua própria dinâmica de decisão de investimentos", disse Mendonça de Barros. Para ele, os setores industriais que sofrem com perda de dinamismo são hoje mais afetados por impostos altos e custos elevados de produção.

Vladimir do Vale, economista-chefe do Crédit Agricole, aponta ainda que o atual nível de ociosidade da capacidade instalada na indústria não exige que as empresas tenham pressa em investir.

A ausência de uma estratégia de longo prazo para a indústria que "otimize" o novo aporte do Tesouro Nacional ao BNDES preocupa Mônica de Bolle, economista da Galanto Consultoria e diretora-executiva do Instituto de Estudos de Política Econômica Casa das Garças.

Segundo Mônica, o governo optou pelo caminho mais fácil: conceder crédito público em um canal já conhecido, como o BNDES. "Novamente temos intervencionismo estatal nos investimentos para a indústria e este tipo de intervencionismo nunca é eficiente, porque dá prioridade para coisas que estão na agenda do governo, que não necessariamente representam o desenvolvimento do país como um todo, no longo prazo", avaliou.

O aporte ao BNDES vai atender tambem a agenda do governo de ampliar linhas de crédito para inovação. Para parte dos economistas, no entanto, investimento em pesquisa e desenvolvimento depende de fatores de longo prazo e não apenas da redução conjuntural do custo de financiamento. Para algumas linhas, como PSI - Projetos Transformadores, a taxa de juros é de 5% ao ano, mas em termos reais passou a ser negativa, de descontada a inflação de 5,4% prevista para os próximos doze meses, de acordo com o boletim Focus do BC.

Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada na Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressalta que o ambiente econômico e os esforços para qualificação de mão de obra, por exemplo, são decisivos para esse tipo de investimento. "Não é um pacote ou outro, por melhor que seja, que vai conseguir esse aumento, é um conjunto de fatores", explica.

José Márcio Camargo, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), é mais enfático. Para ele, nenhum país até hoje conseguiu dar um salto em projetos de pesquisa e desenvolvimento sem que a qualidade do ensino tenha acompanhado. "Se o Brasil quer mesmo ser um país que gera inovação, terá que olhar para a base da educação, para o ensino primário".

Em Brasília, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirmou que o aporte de R$ 45 bilhões do Tesouro Nacional possibilitará desembolsar entre R$ 145 bilhões a R$ 155 bilhões neste ano. No ano passado, esse número foi de R$ 139 bilhões e, em 2010, R$ 140 bilhões.

O vice-presidente da instituição, João Carlos Ferraz, disse que parte do aporte poderá ser ficar para 2013. Segundo ele, o dinheiro não será repassado de uma só vez. "O Ministério da Fazenda e o BNDES se sentarão para definir em que momento será necessário fazer o empréstimo e qual o valor de cada parcela."

Ferraz disse que os empréstimos do Tesouro Nacional ao banco estão diminuindo. A ajuda foi R$ 100 bilhões em 2009, R$ 80 bilhões em 2010 e R$ 55 bilhões em 2011. Ele declarou ainda que os financiamentos concedidos ao capital de giro das empresas estão começando a retornar ao banco, o que deve amenizar a necessidade de recursos da instituição financeira.               



fonte: Valor Econômico
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