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Linha de crédito financiará renovação de áreas de cana
Ainda de olho no rescaldo da inflação provocada pelo etanol na entressafra, o governo decidiu criar uma linha de crédito para financiar a renovação das plantações de cana-de-açúcar por indústrias e produtores independentes. A medida será incluída no Plano de Safra, em junho, informou o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, ao Valor.
Ancorada na elevação da oferta de cana para a produção de etanol, a nova linha buscará elevar a produtividade, via incentivos à adoção de tecnologia nos canaviais. Mas terá forte ênfase no aspecto ambiental, associando a recuperação de terras degradadas e redução da emissão dos gases causadores do efeito estufa.
"Houve uma perde de produtividade que precisamos recuperar com financiamento adequado para estimular investimentos", afirma Rossi. A linha foi desenhada para embutir um "impacto ambiental positivo", diz ele. "A renovação dos canaviais é importante para o abastecimento de etanol e a garantia de ganhos de produtividade maiores, além de um estímulo ao uso de mais tecnologia".
A linha fará parte do programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), cuja taxa de 5,5% ao ano é inferior aos 6,75% cobrados no crédito rural oficial. As ações do ABC têm limite de financiamento de R$ 1 milhão por beneficiário e prazo de 12 anos para pagamento. Criado em 2010, o ABC visa a reduzir a emissão de até 163 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera. Também busca recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e estimular o plantio de até 9 milhões de hectares de florestas.
A forte alta de preços do etanol no início do ano, associada aos riscos de desabastecimento, levaram a presidente Dilma Rousseff a classificar o combustível como "estratégico" para aumentar o poder de intervenção no mercado. Por determinação de Dilma, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) assumiu a fiscalização e passou a regular o segmento. O intervalo da mistura de etanol anidro à gasolina foi elevado, de 20% a 25% para 18% a 25%. A presidente ordenou a Petrobras a acelerar seus planos de investimento na produção de etanol. Por fim, determinou a redução de preços à BR Distribuidora.
O governo mantém cautela em relação aos preços internos do etanol. E quer ter garantia de geração de excedentes para exportação do combustível, símbolo de alternativa limpa e renovável para o abastecimento energético mundial.
A desaceleração dos investimentos em usinas no Brasil preocupa o governo. Atingidas pela crise global de 2008, várias indústrias foram vendidas a estrangeiros. Em dificuldades para injetar mais recursos no segmento, as multinacionais preferiram aguardar.
De lá para cá, poucas arriscaram elevar suas apostas na produção. Agora, o governo quer estimular o investimento em canaviais. E tem a garantia de que isso ocorrerá dentro de padrões ambientais seguros, já que fez um zoneamento econômico-ecológico identificou 64 milhões de hectares de terras aptas ao cultivo da cana-de-açúcar - 20 milhões com "alta aptidão".
O ministro Wagner Rossi informou, ainda, que planeja a criação de uma linha de crédito para financiar a estocagem de suco de laranja. O objetivo é evitar as fortes oscilações de preços e prejuízos ao produtor derivados da oferta abundante de laranja no auge da safra. "Queremos garantir o suprimento interno, com foco na merenda escolar, e o fluxo comercial das exportações", afirma Rossi. A indústria, formada por quatro grandes empresas, resiste à ideia, segundo o ministro. "É um grupo pequeno, de grande protagonismo, que tem condições de fazer prevalecer seus interesses. Mas é gente respeitável e vamos conversar".
O presidente do Sindicato Rural de Bebedouro, José Oswaldo Junqueira, afirma que a armazenagem climatizada tem "custo muito alto" e que uma razão para a queda dos preços é justamente a formação de estoques. "As empresas ganham mais poder", avalia Junqueira. O custo para estocar uma tonelada de suco custaria entre US$ 800 e US$ 1 mil. "É o equivalente à produção de uma tonelada", diz