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Maioria aposta em alta da Selic em 2013
Apesar da alta recente das projeções para a inflação, os analistas ainda veem o Banco Central (BC) comprometido com o regime de metas e com o corte do juro. Os economistas de mercado são unânimes na avaliação de que a taxa Selic cairá a um dígito nos próximos meses, mas a maioria espera a retomada do aperto monetário em 2013, com elevação do juro e adoção de medidas macroprudenciais. Todos os 29 economistas de mercado ouvidos pelo Valor esperam que o Comitê de Política Monetária (Copom) corte a Selic em 0,50 ponto percentual, para 10% ao ano, na semana que vem. Desse grupo, 28 trabalham com juro básico de um dígito, entre 8,50% e 9,75%, no fim deste ano. Para dezembro de 2013, a expectativa é de Selic entre 8,5% e 11,50%. Mas maioria - 18 profissionais - contam com uma alta de juros no próximo ano.
A última pesquisa Focus mostrou alta da projeção do IPCA para 2013 de 5,03% para 5,11%. Também nas NTN-Bs (títulos públicos atrelados ao IPCA), a parcela do rendimento que reflete a expectativa da inflação subiu para 5,68% esta semana, acima dos 5,38% observados há duas semanas. Esse movimento não alterou a aposta de que o Copom continuará cortando a taxa Selic no curto prazo porque, paralelamente, o mercado vê sinais de desaceleração da atividade. E também porque reconhece que a condução da política monetária mudou. Para alguns analistas, o BC do governo Dilma deixou de focar o centro da meta da inflação e passou a utilizar a flexibilidade da banda do regime de metas. Outros entendem que o controle da inflação passou a ser apenas mais um compromisso que o BC tem atualmente.
"O BC deverá apertar as condições monetárias na virada de 2012 para 2013. Mas isso não será feito com aumento da Selic, em função da ampla e crescente liquidez global - que torna aumentos da Selic contraproducentes em relação ao objetivo de conter a expansão do crédito e consequentemente da demanda agregada e da inflação. Esse aperto provavelmente será feito com novas medidas macroprudenciais, como decisões restritivas previstas no acordo de Basileia 3, e aumento de depósitos compulsórios", afirma Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores para quem não se pode nem mesmo descartar a possibilidade de o BC continuar reduzindo a Selic para menos de 9,50% ao ano concomitantemente a um aperto nos outros instrumentos não-convencionais de política monetária, caso o Brasil seja inundado por fluxos de capitais estrangeiros.
Borges é um dos economistas que identificam pressões inflacionárias importantes particularmente em 2013. Entre os focos de pressão estão os impactos indiretos do provável reajuste do diesel que será feito pela Petrobras ao longo de 2012, o calendário eleitoral na sequência das eleições municipais, uma alta mais forte dos preços de commodities não neutralizada pela valorização cambial e um crescimento do PIB brasileiro próximo de 5% no final de 2012. "Esses focos poderão gerar uma aceleração de até 1 ponto percentual do IPCA entre 2012 e 2013. Essa constatação levará o BC a agir na virada de 2012 para 2013, de modo a assegurar uma inflação caminhando para menos de 5% em 2014", diz Borges.
Octavio de Barros, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, para quem a taxa Selic começa a subir em meados do primeiro semestre de 2013, considera que a pressão dos preços de serviços deverá perdurar por mais algum tempo, assim como o ambiente global de elevada liquidez. Para Barros esse cenário pode dificultar o alcance preciso do centro da meta. Por essa razão, o Bradesco prevê uma taxa de inflação ligeiramente superior à meta, mas próxima ao centro no ano que vem. Mas isso não significa dizer que o BC não está comprometido com a meta de inflação.
"A experiência recente sugere que o BC utilizará um horizonte de cerca de um a dois anos para buscar a convergência da inflação após a ocorrência de choques substanciais. É preciso também notar que o ambiente internacional atípico seguirá impondo algumas restrições adicionais que serão levadas em conta na condução da política monetária. O compromisso intertemporal com a meta de 4,5% segue válido", afirma Barros.
Já Marcelo Carvalho, economista-chefe do BNP Paribas para a América Latina, pondera que o comportamento das projeções de inflação não ratifica a ideia de que o BC está comprometido com o centro da meta de 4,5%. E lembra que tem acontecido muita coisa curiosa nesse terreno. "O consenso dos economistas para a inflação de 2015 começou a subir, descolando da meta oficial de 4,5%. Isso é inédito. Já não estamos falando nem de 2013 ou mesmo 2014, mas em 2015. Isso sugere que os analistas estão questionando a real disposição do BC em de fato trazer a inflação para o centro da meta e mantê-la no longo prazo. O problema é que expectativa de inflação é que nem pasta de dente: depois que saiu do tubo, é muito difícil botar de volta para dentro. Talvez seja possível, mas não é nada fácil", diz. Para ele, se o controle da inflação realmente importa, o BC será forçado a voltar a apertar a política monetária. "O debate hoje no Brasil é: até onde o BC vai cortar o juro? Isso vai mudar lá na frente. A não ser que haja um desastre lá fora, o debate aqui dentro rumo a 2013 vai ser: como esfriar uma economia superaquecida, para segurar a inflação?"
Inês Filipa, economista-chefe da Icap Brasil, avalia que o BC não perdeu o foco no regime de metas, apenas ajusta suas decisões de política monetária para adequar um nível de crescimento de volta ao potencial, permitindo uma flutuação do IPCA acima do centro da meta, porém esperando que a taxa fique mas próxima ao centro (rodando os 5,0%) do que colada ao teto, de 6,5%.
Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, está entre a minoria dos analistas que não vê a taxa Selic em alta no ano que vem e considera a possibilidade de o juro permanecer em 9,25% até dezembro de 2013. Para ele, a perspectiva da redução da taxa neutra de juros é outro elemento "sancionador do cenário de flexibilização" da meta de inflação. Nesse mesmo grupo está Marco Maciel, economista-chefe do B anco Pine. Em seu cenário, a Selic deve continuar em queda no próximo ano até atingir 8,5%. Ainda assim, a inflação deve ficar perto de 4,7% tanto em 2013 quanto em 2014. "A desaceleração da atividade e o fato de o BC lidar com outras políticas devem garantir o ambiente para a queda do juro."