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Sem cana, usineiros podem antecipar o fim da safra
As unidades produtoras de etanol e açúcar instaladas na região Centro-Sul do país poderão antecipar para o mês de outubro o fim da safra de cana-de-açúcar. Normalmente, em um ano de períodos estáveis, isso aconteceria no mês de dezembro. Após três anos colecionando problemas (nas safras 2009/2010 e 2010/11 foram a seca e as chuvas intensas que atrapalharam, e na atual safra (2011/2012) é a falta de investimentos em novas áreas e canaviais velhos que atrapalharam a produção, além da ocorrência de geadas.
Agora, quase sem cana, é possível que os usineiros antecipem o fim da temporada, o que naturalmente elevará ainda mais os preços do etanol e do açúcar ao consumidor.
A União das Indústrias da Cana-de-açúcar (Unica) ameniza o fato, mas admite que as usinas terão que reavaliar individualmente as suas produções e cronogramas anuais."Pode ser que uma ou outra usina antecipe o final da safra devido à menor oferta de cana por área plantada neste ano", explica Sérgio Prado, da Unica. As usinas mais afetadas estão localizadas no estado de São Paulo, Minas Gerais e norte do Paraná.
Até o momento, apenas o grupo Batatais, com usinas em Batatais e Lins, na região de Araçatuba, ambas no interior de São Paulo, anunciou oficialmente a atencipação do fim da moagem em uma das unidades. Segundo Bernardo Biagi, diretor-presidente do grupo, em Lins a safra será paralisada em outubro. "Na região, tivemos uma seca severa e a geada atingiu muitos canaviais no final do mês de junho", explicou. A unidade Batatais, porém, continuará a safra até dezembro.
Na região de Piracicaba, os canaviais não devem render mais que 36 milhões de toneladas, segundo estimativas da Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo, Coplacana. José Coral, presidente da entidade, trabalhava com a expectativa de colher 37 milhões de toneladas na região e, segundo ele, se este volume menor for confirmado, as usinas da região não terão cana-de-açúcar para moer a partir de outubro.
Em Minas Gerais, a usina Paraíso, do grupo Infinity Bioenergia, suspendeu suas atividades por falta de cana. A unidade mantinha canaviais plantados em cerca de 400 mil hectares. A cana ainda disponível nestes canaviais e aptas a serem colhidas, estão sendi vendidas para outras unidades instaladas na região. Nas outras unidades industrias do grupo, porém, as atividades continuam normalmente.
Os canaviais da região oeste paulista, onde está a Usina Lins, foram os mais afetados pelas fortes geadas do fim de junho. A União dos Produtores de Bioenergia (Udop) estima que pelo menos 70 usinas na região tiveram seus canaviais atingidos pelas geadas. O presidente da entidade, Celso Torquato Junqueira Franco, explica que a geada contribui ainda mais para a redução da produtividade da planta. Ele diz que muitas usinas da região estão revendo seus cronogramas para evitar prejuízos ainda maiores e é possível que a safra deste ano termine antes do previsto.
Sem ATR, a cana não vale
Na região Centro-Sul, que produz a maior parte da cana no Brasil, os canaviais já vinham perdendo produtividade porque estão velhos (a renovação dos canaviais deve ser feita a cada seis ou sete anos) e as intensas frentes frias que atingiram a área este ano também provocaram um grave problema: o florescimento da cana. O processo faz a planta brotar na parte superior e crescer acima do nível médio, roubando os nutrientes da parte que está embaixo e que é usada para fazer etanol e açúcar.
Para tentar evitar o problema, as usinas precisam colher a planta antes do período planejado, normalmente de 12 meses. Na usina, porém, esta cana não apresenta quantidades suficientes de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) por hectare, perde preço (que é calculado a partir da quantidade de ATR/tonelada) e tem baixo rendimento.
Sem ajuda, o preço sobe
O governo federal anunciou, em junho, linhas de crédito especiais para o setor sucroenergético. O produtor de cana-de-açúcar, através do Plano Safra, poderá obter financiamentos de até R$ 1 milhão por ano para investir em novas áreas plantadas com cana. O resultado disso, porém, só surgirá no final de 2012, já que o canavial leva, em média, de oito a nove meses para começar produzir. "Já sinaliza ajuda, mas o governo ainda tem que definir melhor quais os planos que tem para o etanol", avalia Jacyr Costa, diretor-presidente da Usina Guarani, de Olímpia, interior de São Paulo.
Segundo Costa, a falta de políticas agrícolas bem direcionadas para o setor provocam a instabilidade, principalmente nos preços do etanol. "Não há apoio", reclama. "O Brasil é o único país do mundo que permite ao seu consumidor escolher qual combustível quer comprar. Isto, porém, é um mérito da iniciativa privada, dos usineiros. Está na hora de o governo apoiar o setor".
A maré de preços altos para o etanol ainda deve permanecer em todo o país durante três ou quatro anos, se houver investimentos e, como defendem os usineiros, apoio governamental.